segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
Sistemas Imunológicos
A maioria dos pacientes com esclerose múltipla, doença neurológica crônica de causa ainda desconhecida, tem episódios que são geralmente reversíveis. Mas, com o tempo – geralmente de 10 a 15 anos após o início da doença –, a maior parte desenvolve esclerose múltipla progressiva secundária, que se manifesta na forma de danos neurológicos graduais e irreversíveis.
Um novo estudo, feito por pesquisadores de diversos países, acaba de conseguir reverter déficits neurológicos em estágios iniciais em pacientes com esclerose múltipla a partir do transplante de células-tronco dos próprios indivíduos. As células foram usadas para “reinicializar” seus sistemas imunológicos.
A pesquisa, que será publicada na edição de março da revista The Lancet Neurology, conta com a participação de Julio Cesar Voltarelli, do Centro de Terapia Celular (CTC) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da FAPESP.
O estudo foi liderado por Richard Burt, do Departamento de Medicina da Universidade Northwestern, que colaborou com Voltarelli e o grupo do CTC em www.agencia.fapesp.br/materia/6983 pesquisa sobre uso de células-tronco em pacientes com diabetes tipo 1.
O estudo agora publicado foi feito com 21 pacientes, com idades entre 20 e 53 anos, que foram submetidos a tratamento entre janeiro de 2003 e fevereiro de 2005. O trabalho indicou melhoria nos 24 meses seguintes após o transplante, com o estado clínico se estabilizando posteriormente.
De acordo com os pesquisadores, os voluntários experimentaram melhorias em pontos afetados pela esclerose múltipla, como o ato de andar, a força nos membros, a perda da coordenação muscular, visão e incontinência.
Os pacientes foram submetidos ao transplante de células-tronco hematopoiéticas autólogas após não terem respondido ao tratamento padrão da doença com interferon beta por pelo menos seis meses.
No estudo, os cientistas trataram os pacientes com quimioterapia para danificar seus sistemas imunológicos. Em seguida, injetaram as células-tronco obtidas do sangue de cada um antes da quimioterapia, de modo a iniciar um novo sistema imunológico.
Três anos após o procedimento, 17 participantes (81%) apresentaram melhoria em pelo menos um ponto na escala de desabilidade e a doença se estabilizou em todos os 21.
Apesar do sucesso, os pesquisadores ressaltam que os resultados do trabalho precisam ser confirmados por novos estudos. Burt, Voltarelli e colegas iniciarão em breve uma nova fase da pesquisa, com um número maior de pacientes.
“Como extensão do trabalho agora publicado, passamos a ter no Hospital das Clínicas FMRP-USP um estudo randomizado, colaborativo, multicêntrico e internacional para testar esse tipo de transplante na esclerose múltipla”, disse Voltarelli, que também é professor titular do Departamento de Clínica Médica da FMRP-USP, à Agência FAPESP.
O artigo Autologous non-myeloablative haemopoietic stem cell transplantation in relapsing-remitting multiple sclerosis: a phase I/II study, de Richard Burt e outros, pode ser lido por assinantes na versão on-line da i>The Lancet Neurology em www.thelancet.com/neurology.
Fonte: Agência Fapesp
Foto: NIH
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